quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Avaliação Individual do Desempenho

É necessário combater a Avaliação Individual do Desempenho

Está na moda. As empresas aplicam-na, o governo implementou-a na Função Pública, nos Professores e vai entrar no Ensino Superior.

Apontada como um avanço, aparece como um progresso e não tem sido combatida pelos sindicatos. No entanto, é uma das últimas armas do capitalismo e deve ser combatida como um dos piores ataques ao trabalhador. Substituindo a avaliação das tarefas pela avaliação do trabalhador, destrói e trabalho em equipa e coloca os trabalhadores uns contra os outros.

Atente-se no seguinte extracto de uma entrevista de Christophe Dejours (psiquiatra, psicanalista e professor no Conservatoire National de Arts et Metiers, em Paris, onde dirige o Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Acção) ao P2, publicada por Ana Gerschenfeld no Jornal Público de 30/1/2010.

Ele tem a experiência de quem estuda o assunto e, conclui, nem para a empresa é boa.

João Brandão


O que é que mudou nas empresas?
A organização do trabalho. Para nós, clínicos, o que mudou foram principalmente três coisas: a introdução de novos métodos de avaliação do trabalho, em particular a avaliação individual do desempenho; a introdução de técnicas ligadas à chamada "qualidade total"; e o outsourcing, que tornou o trabalho mais precário.
A avaliação individual é uma técnica extremamente poderosa que modificou totalmente o mundo do trabalho, porque pôs em concorrência os serviços, as empresas, as sucursais - e também os indivíduos. E se estiver associada quer a prémios ou promoções, quer a ameaças em relação à manutenção do emprego, isso gera o medo. E como as pessoas estão agora a competir entre elas, o êxito dos colegas constitui uma ameaça, altera profundamente as relações no trabalho: "O que quero é que os outros não consigam fazer bem o seu trabalho."
Muito rapidamente, as pessoas aprendem a sonegar informação, a fazer circular boatos e, aos poucos, todos os elos que existiam até aí - a atenção aos outros, a consideração, a ajuda mútua - acabam por ser destruídos. As pessoas já não se falam, já não olham umas para as outras. E quando uma delas é vítima de uma injustiça, quando é escolhida como alvo de um assédio, ninguém se mexe...

E, na sequência das histórias de suicídios, alguns desses empresários vieram ter comigo porque queriam repensar a avaliação do desempenho. Comecei a trabalhar com eles e está a dar resultados positivos.
O que fizeram?
Abandonaram a avaliação individual - aliás, esses patrões estavam totalmente fartos dela. Durante um encontro que tive com o presidente de uma das empresas, ele confessou-¬me, após um longo momento de reflexão, que o que mais odiava no seu trabalho era ter de fazer a avaliação dos seus subordinados e que essa era a altura mais infernal do ano. Surpreendente, não? E a razão que me deu foi que a avaliação individual não ajuda a resolver os problemas da empresa. Pelo contrário, agrava as coisas. Neste caso, trata-se de uma pequena empresa privada que se preocupa com a qualidade da sua produção e não apenas por razões monetárias, mas por questões de bem-estar e convivialidade do consumidor final. O resultado é que pensarem termos de convivialidade faz melhorar a qualidade da produção e fará com que a empresa seja escolhida pelos clientes face a outras do mesmo ramo. Para o conseguir, foi preciso que existisse cooperação dentro da empresa, sinergias entre as pessoas e que os pontos de vista contraditórios pudessem ser discutidos. E isso só é possível num ambiente de confiança mútua, de lealdade, onde ninguém tem medo de arriscar falar alto. Se conseguirmos mostrar cientificamente, numa ou duas empresas com grande visibilidade, que este tipo de organização do trabalho funciona, teremos dado um grande passo em frente.

1 comentário:

Gregório Salvaterra disse...

Caro camarada JB
Eu não sei se o problema é a avaliação. Acho que, pelo contrário, sofremos todos com esta cultura vigente que se opõe visceralmente a toda a avaliação. Podemos achar que os modelos que têm vindo a ser propostos, não servem e o que temos que contrapor são formas que valorizem o trabalho, o esforço e a criatividade de cada um. isso não se faz sem avaliação. Aliás, a ilusão de que não há avaliação, pode ser perigosa, porque na realidade ela existe e eu prefiro que todos saibamos o que está a ser avaliado e com que critérios.
As posições aparentemente radicais de recusa de todo o tipo de avaliação, podem parecer muito de esquerda e populares, mas correm o risco de ser reaccionárias por se oporem ao desenvolvimento humano e tentarem iludir a realidade.
Não embarco nessa. Como não embarquei na luta dos professores que juntou a esquerda e a direita num baile de roda a sentarem-se ao colo uns dos outros...
JJS