sexta-feira, 8 de maio de 2009

A insegurança, também em Faro, um problema a que urge dar resposta

Desde há bastante tempo que uma questão me preocupa: a insegurança, em particular, em Faro.

Sendo membro, pelo BE, numa assembleia de freguesia, não tenho deixado de nela manifestar essa preocupação, sobretudo em alturas em que o problema se tem feito sentir com mais acuidade. No seio do BE também não tenho deixado de levantar a questão, em vão. Embora quase toda a gente ache que se trata de um problema, a eterna necessidade de se ir à raiz da questão justifica o adiamento da procura de soluções. E como, na narrativa da Esquerda, a raiz do problema está a montante, é o sistema capitalista, estamos conversados,… Resta, por conseguinte, a nível local, concentrarmo-nos nos desmandos das empresas municipalizadas, no ataque às ditaduras do automóvel e do betão, na crítica aos erros da monocultura do turismo, e por aí adiante.

Muito embora seja necessária uma intensa aposta no desenvolvimento do Concelho contra todas as aberrações atrás referidas e uma pipa de outras mais, ficarmo-nos por aí – o que já não é pouco, diga-se – conduz, no meu entender, a um défice de resposta eficaz da Esquerda, em particular do BE, à questão da insegurança e do péssimo funcionamento da Justiça. O sistema capitalista é, de facto, um óptimo potenciador da criminalidade, pelas injustiças que produz. Mas contentarmo-nos em sublinhar o facto e não arredarmos daí pé, pode deixar-nos de consciência tranquila por apontarmos o dedo à raiz do problema, porém, aos olhos dos cidadãos não resulta mais do que assobiarmos para o lado. Porque, aos olhos das pessoas – que até podem não ter uma consciência muito avançada e ter alguns preconceitos à mistura, mas de todo não são parvas – muitos dos “bons selvagens” já só são selvagens, porque há muito que deixaram de ser bons…

Se aceitarmos, muito rousseaunianamente – e também maniqueistamente, digo eu – que o problema só está no sistema social, temos ao menos obrigação de dar resposta a uma vertente da questão, que é a do apoio à vítima. Para sossego dos mais fervorosamente revolucionários entre nós, nem toda a vítima é necessariamente abastada. De facto, os carros assaltados, ou pura e simplesmente vandalizados, não são necessariamente todos topos de gama pertencentes a gestores fraudulentos, as casas assaltadas não são necessariamente todas luxuosos condomínios fechados, de gente rica mafiosa, com segurança privada à porta.

Sem se dar ao luxo de preocupações rousseaunianas – admito-o –, o desempenho cinzento tipo “faz de conta” das autoridades policiais e judiciais vai dar ao mesmo, ainda que se desdobrem nos mais arrojados malabarismos com o fito de conservar uma Justiça obstinadamente cega, que o mesmo é dizer, que menos trabalho lhes dê: prazos cumpridos, diligências tidas como feitas como manda a lei, processos arquivados, por conseguinte, justiça “feita”…

Ao contrário do discurso oficial de que os cidadãos podem confiar e devem colaborar com a Justiça, a realidade é diametralmente oposta, a generalidade dos portugueses sem grandes recursos sabe bem que não vale a pena sequer apresentar queixa, porque nunca dá em nada.

O Bloco, mesmo não pondo a tónica na punição dos criminosos, devia ao menos incluir na sua agenda pela modernidade, a necessidade de apoio às vítimas, cuja única culpa foi acertar em cheio num local e hora de azar.

Mas, no meu entender, o sentimento de insegurança não pode ser reduzido, como pretendem alguns especialistas da área da sociologia, a uma construção que apenas resulta das representações que cada um vai elaborando para si, em função dos “alarmismos” da comunicação social. O sentimento de insegurança resulta de crimes reais e são esses que preocupam as pessoas. Os crimes até podem ser ignorados nos noticiários, muito embora não se perceba a vantagem de uma falsa sensação de segurança – com a agravante de nos tornar mais incautos… O Bloco de Esquerda devia empenhar-se também na luta contra a criminalidade, da qual, grande parte não deixa de estar associada às mais reaccionárias e aviltantes maneiras de estar em sociedade, com manifestações de total desprezo pelo Outro. Nesse sentido, era obrigação nossa denunciar a total inépcia do Estado, por omissão, na dissuasão da criminalidade. O Estado começa por não fornecer aos seus Agentes de Autoridade os meios necessários para a prossecução eficaz e séria de um processo criminal, o qual deveria resultar, quer na punição dos criminosos, quer no apoio e consequente ressarcimento das vítimas.

Não o fazer, é deixar esta importante bandeira nas mãos da Direita, que muito agradece… para além de ganhar legitimidade para a tratar – também maniqueistamente, digo eu – como muito bem entender...

Augusto Taveira

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom post!

De facto a insegurança no nosso concelho está a aumentar assustadoramente sem que estejam a ser tomadas medidas de prevenção.

Infelizmente, sobre este assunto vemos os candidatos dos dois grandes partidos a assobiar alegremente para o ar como se nada passasse.

Para além disto, ainda há a agravante do sr. Macário Correia pretender baixar a intensidade da iluminação pública nas estradas e ruas do concelho em cerca de 50% a partir da uma da manhã, para baixar a conta anual de electricidade da Câmara.

Como é obvio perante esta medida, o sentimento de insegurança nas ruas vai aumentar ainda mais, sem esquecer o perigo inerente a atropelamentos causados pela deficiente iluminação.

Eu quero um concelho e uma cidade onde haja QUALIDADE DE VIDA, onde possa circular com segurança e às horas que quiser, sem ficar condicionado a uma qualquer lei marcial.

Estou convencido que o Bloco pode oferecer isso a Faro. Força Bloco, terão o meu voto.

Anónimo disse...

Por falar em insegurança, mas insegurança democrática

Esta noticia veio no Correio da Manhã de quinta-feira e revela o carácter do sr. Macário Correia.

Expulso sem saber porquê

Sandro Colaço, professor de Expressão Corporal do ATL da Escola Básica de Santa Luzia, Tavira, foi suspenso pela autarquia, na quinta-feira, depois de um acidente durante uma aula que envolveu o filho do presidente da câmara, Macário Correia.


"Era um exercício normalíssimo, supervisionado por mim", explica o docente, que diz não saber por que razão está suspenso. A turma tinha terminado o ensaio da peça ‘Inspector Tótó’ e, no exercício seguinte, com os alunos de olhos vendados, o filho do presidente da Câmara de Tavira feriu o lábio.

"O professor é muito querido, é boa pessoa e não é justo ir para a rua por o acidente ter sido com quem foi", desabafa uma das empregadas, sob anonimato.

Sandro Colaço "tem feito as festas mais lindas desta vila e todos os alunos têm um enorme carinho por ele", diz a coordenadora da escola. Aida de Jesus, que também desconhece oficialmente o motivo da suspensão, acrescenta que "toda a escola está em choque, todos têm plena confiança no trabalho do professor e respeitam-no".

As aulas de Expressão Corporal estão agora a ser leccionadas pela professora de Expressão Plástica e há alunos que reclamam pelo regresso de Sandro Colaço.

Macário Correia não comentou a suspensão do docente. "São assuntos internos da câmara, envolvendo um familiar e por uma questão de ética e boa educação não presto declarações", disse.