sexta-feira, 17 de abril de 2009

NÁRIO OU CÁRIO: SEMPRE O MESMO FADÁRIO?
O ano eleitoral vai em plena aceleração. As Europeias estão marcadas e quase a bater à porta – dia 7 de Junho já não vem longe. Legislativas e autárquicas, ainda sem data, serão em Outubro, mas já agitam os partidos e a Comunicação Social um pouco por todo o lado.
Faro não é excepção. Como sempre acontece nos períodos pré-eleitorais, separam-se as águas no bloco central dos interesses instalados. Menos, na sombra e na parceria dos negócios. Mais, na rivalidade e na luz da ribalta partidária. Cário e Nário polarizam a disputa.
Um, recem-chegado com a auréola de grande executivo, joga ao ataque. Numa penada, escandaliza-se com os atrasos do pagamento às colectividades e promete o fim rápido das já velhinhas barracas e o saneamento ainda mais rápido das angustiadas finanças da autarquia.
O outro, dá-se ares de figura da casa mas joga à defesa, plantando obra/gráfica por todo o concelho. A ecovia de anedota e o metro fantasma elucidam a solidez dos argumentos.
Trinta anos de alternância governativa das mesmas cores no município, a ambos desmentem, e mostram outra realidade muito mais triste, que os farenses conhecem demasiado bem.
São Nário e Cário o único cenário? Não são. Mas cuidado, com Vitorino repete-se o figurino!
A sem cerimónia destes dizeres pode soar a desfaçatez arrogante ou a partidarismo sectário. Corro o risco com a franqueza de quem na política foi sempre amador e sempre lá, em baixo à esquerda.
Uma outra força embrutece. A crise e o perigo, a certeza, do seu agravamento. A crise velha que em nome do défice e da competitividade, em nome da promessa de melhores dias nos fez apertar o cinto. E a crise nova que, por cima do défice e da competitividade, das promessas e dos dias, na impunidade dos que compram a lei e o poder, porque eles são o poder, em nome do antes mal que pior, antes migalhas que nada, nos faz apertar ainda mais o cinto...
Por isso, contra isso, tanto ou mais do que o partido/movimento em que me identifico, faz falta fazer-se ouvir outra razão. Das e dos jovens, hoje precários e amanhã desempregados do Forum, do Modelo, do Aeroporto, das lojas, cafés e restaurantes da cidade e das freguesias. Dos estudantes hoje na Tomás Cabreira ou na Pinheiro e Rosa, em casa dos pais, amanhã logo se vê o quê e onde, em casa dos pais. Dos pequenos empresários sempre aflitos se fogem ou não à crise e ao fisco, dos micro, muitas vezes tão micro, que são empresários por conta própria a trabalhar para o patrão, geração dos 500 euros, sem contrato. Dos pensionistas de esperar sentados na Caixa ou no vale dos Correios. Das ex-funcionárias agora contratadas, no Hospital, na Câmara, nas Escolas, na Universidade, etc., etc. Dos destinatários do Banco Alimentar contra a Fome ou dos frequentadores do refeitório da Misericórdia. Dos ciganos da Horta da Areia ou da zona dos Bombeiros. Das ucranianas dos serviços domésticos, das marroquinas apanhadoras de morangos nas estufas das Campinas...
Todos eles e muitos mais têm de dizer, e fazer valer, a sua justiça. Se, neste ano eleitoral, aqui em Faro, ajudarmos a que isto seja um pouco mais verdade, estaremos finalmente a contribuir para que termine o dilema do fadário – Nário ou Cário?
24/03/09
Vítor Ruivo

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